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Burnout: quando o corpo e a mente pedem pausa

  • Foto do escritor: Psicólogo Antonio Andrade
    Psicólogo Antonio Andrade
  • 12 de nov.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de nov.



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Entenda por que o esgotamento emocional não é apenas cansaço e como reconhecer os sinais antes que o corpo precise gritar.


Quando o cansaço deixa de ser normal


Vivemos em uma cultura que valoriza a produtividade e mede o valor das pessoas pelo quanto elas fazem. Não é raro ouvir frases como “é só uma fase corrida” ou “todo mundo está cansado”, enquanto o corpo e a mente dão sinais de exaustão profunda. Mas há uma diferença importante entre estar cansado e estar esgotado.

O burnout ou síndrome do esgotamento profissional  é uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e resulta de estresse crônico relacionado ao trabalho que não foi gerenciado adequadamente. Não é uma questão de falta de força ou resiliência, e sim um sinal de que algo no modo de vida, nas relações profissionais ou nas próprias exigências internas saiu do equilíbrio.


De onde vem o burnout


O termo foi utilizado pela primeira vez nos anos 1970 pelo psicanalista Herbert Freudenberger, que descreveu profissionais da saúde emocionalmente exauridos, desmotivados e desumanizados pelo excesso de demandas. Desde então, pesquisas ampliaram o entendimento do fenômeno, que hoje é visto como um processo gradual, com componentes psicológicos, emocionais, físicos e sociais.


O burnout não surge de um dia para o outro ele se constrói silenciosamente, em camadas:


  • A sobrecarga constante leva à fadiga.

  • A fadiga se transforma em distanciamento emocional.

  • O distanciamento vira desmotivação e sensação de inutilidade.

Quando a pessoa percebe, o trabalho que antes fazia sentido agora parece um peso impossível de carregar.


Os sinais do corpo e da mente


Reconhecer os sinais é o primeiro passo para quebrar o ciclo do esgotamento. Eles costumam aparecer em três dimensões principais:


1. Exaustão emocional


Um cansaço que não melhora com descanso. Acordar já esgotado, sentir-se “no limite” e perceber que até pequenas tarefas parecem grandes demais. A sensação é de vazio, impotência e perda de energia vital.


2. Despersonalização ou distanciamento


A pessoa começa a se sentir emocionalmente desconectada do que faz e das pessoas ao redor. Isso pode se manifestar como irritabilidade, impaciência, frieza ou cinismo. É como se uma parte de si se desligasse para tentar sobreviver.


3. Redução da realização pessoal


Mesmo que os resultados continuem positivos, a pessoa sente que nada é suficiente. A autocrítica aumenta, a autoestima diminui, e o prazer em realizar desaparece. É o ponto em que o “fazer” já não se conecta mais ao “porquê”.


Fatores que alimentam o burnout

Embora o burnout esteja ligado ao contexto profissional, ele não depende apenas das condições externas. A combinação entre ambientes exigentes e crenças pessoais rígidas é o que mais favorece seu surgimento.


Alguns fatores comuns incluem:


  • Jornadas longas e falta de pausas reais.

  • Exigência por desempenho constante.

  • Clima de competição e falta de apoio entre colegas.

  • Baixo reconhecimento ou sensação de inutilidade.

  • Perfeccionismo e autocrítica exacerbada.

  • Dificuldade em impor limites ou dizer “não”.


Em muitos casos, o burnout surge em pessoas altamente comprometidas e empáticas, que assumem responsabilidades além do que podem sustentar e acabam se perdendo entre o ideal e o possível.


O paradoxo da dedicação


Um aspecto delicado do burnout é que ele costuma atingir quem mais se importa. Profissionais vocacionados professores, psicólogos, médicos, cuidadores, gestores, ativistas, pessoas movidas por propósito e senso de responsabilidade.


O que começa como engajamento pode se transformar em autoexigência extrema, quando o cuidado com os outros não é equilibrado com o cuidado consigo mesmo. E assim, o trabalho deixa de ser uma expressão de sentido e passa a ser uma fonte de sofrimento.


A diferença entre stress e burnout


É importante diferenciar o estresse comum do burnout. O estresse é uma reação natural do organismo frente a desafios, e pode até ter função adaptativa. Mas o burnout ocorre quando esse estresse se torna crônico e sem alívio. A pessoa não consegue mais “desligar” vive em estado de alerta contínuo, como se o corpo tivesse esquecido o caminho de volta ao repouso.


Com o tempo, esse estado constante de tensão pode gerar problemas de sono, dores musculares, taquicardia, queda de imunidade, irritabilidade e sintomas depressivos ou ansiosos.


O papel da psicoterapia no cuidado


A psicoterapia é um espaço fundamental para reconhecer os limites, compreender padrões internos e reconstruir o sentido de vida que o burnout esvazia. Não se trata de “ensinar a lidar com o trabalho”, mas de reconectar o sujeito a si mesmo, ao que sente e ao que precisa.


Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, é comum trabalhar as crenças que alimentam o ciclo do esgotamento:

“Eu preciso dar conta de tudo.” “Se eu descansar, estou sendo fraco.” “As pessoas só me valorizam quando eu entrego mais do que esperam.”

Essas crenças, internalizadas ao longo da vida, podem sustentar o perfeccionismo e o medo de decepcionar, tornando o corpo o único que consegue impor limites quando a mente não consegue.


Quando o corpo fala, é hora de ouvir


O burnout é o corpo pedindo pausa quando a mente já não consegue mais pedir ajuda. É a prova de que o humano não é uma máquina de desempenho, mas um ser que precisa de tempo, sentido e descanso.


Permitir-se parar não é desistir é reconhecer o próprio valor além do que se produz.

Buscar ajuda é um ato de coragem, e não de fraqueza. Na terapia, é possível reconstruir o ritmo interno, compreender as causas desse esgotamento e reencontrar um modo mais saudável de se relacionar com o trabalho e consigo mesmo.


Convite à psicoterapia


Se você tem se sentido no limite, com cansaço que não passa, irritação frequente e perda de sentido no que faz, talvez o seu corpo esteja tentando dizer algo que a mente ainda não conseguiu escutar. A psicoterapia pode ser esse espaço de pausa e reconstrução onde o cuidado volta a ser parte da vida, e não apenas mais uma tarefa.



 
 
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